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Mulheres serão mais afetadas pela IA do que homens em vagas de empregos, segundo relatório da McKinsey

por | 22/09/2023 | Artigos, Tecnologia

Levantamento aponta que desenvolvimento da Inteligência Artificial pode levar à perda de até 10 milhões de empregos femininos nos Estados Unidos até 2030

A inteligência artificial (IA) é uma tecnologia com potencial de transformar a maneira como seres humanos interagem com o mundo — do trabalho ao entretenimento, da arte à saúde, tudo deverá ser impactado. Assim como qualquer tecnologia, a IA também pode ter resultados negativos e, nesse caso, as mulheres deverão ser mais afetadas do que os homens, aponta pesquisa.

Um estudo recente da McKinsey Global Institute (MGI) descobriu que a IA pode levar à perda de até 10 milhões de empregos de mulheres nos Estados Unidos até 2030. Os empregos ocupados por mulheres mais propensos a serem automatizados por IA, como trabalhos de atendimento ao cliente, secretariado, serviços administrativos e vendas, são frequentemente caracterizados por tarefas repetitivas e rotineiras, que podem ser automatizadas por IA.

“A transformação do mercado de trabalho é uma constante e acompanhar a sua evolução, por si só, já é um desafio. Quando olhamos para profissões consideradas “tradicionais”, se a tendência é que estas sejam substituídas pela tecnologia. Estas se tornarão menos disponíveis, o que aumentará, de certa forma, a competitividade em relação aos demais. Digo de certa forma, pois essa competitividade é relativa, na medida em que demanda que os profissionais estejam em um alto nível de qualificação e experiência, o que não traduz a realidade no momento, especialmente no Brasil”, afirma Paula Rodrigues, advogada especialista em IA.

Além da perda de empregos, a nova tecnologia também pode agravar a desigualdade de gênero, de acordo com a pesquisa. As mulheres são mais propensas a ocupar empregos de baixa remuneração que estão em risco de automação. Isso pode levar a uma diferença salarial maior entre homens e mulheres.

Além dos dados da McKinsey Global Institute, outros estudos também apontam para o impacto negativo da IA na vida das mulheres. Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) descobriu que a IA pode levar a um aumento da violência contra as mulheres, deixando-as mais vulneráveis ​​à pobreza e à exploração.

Ações para mitigar o impacto da IA na vida das mulheres
Há uma série de coisas que podem ser feitas para mitigar o impacto da IA na vida das mulheres. Investir na educação e na formação de mulheres para que elas tenham as habilidades necessárias para os empregos que não são automatizados é uma saída. Outra é desenvolver políticas públicas que apoiem as mulheres que perdem seus empregos devido à automação.

“Investir em educação e treinamento é uma bandeira que continua de pé. Hoje, com uma maior democratização do ensino (desde que responsável), bibliotecas e repositórios possuem acesso online e, por vezes, de forma gratuita; cursos de extensão ou profissionalizantes podem ser totalmente gratuitos ou ter preços mais acessíveis; parcerias entre iniciativa pública e privada na promoção de eventos profissionalizantes são algumas medidas que podem ser tomadas nesse sentido”, explica a especialista.

Além disso, as empresas devem continuar sendo encorajadas a adotarem políticas de diversidade e inclusão para garantir que as mulheres tenham oportunidades iguais no mercado de trabalho.

Paula Rodrigues cita ainda a pesquisa do European Institute of Gender Equality divulgada em 2022, chamada “Artificial Intelligence, platform work and gender equality” (“Inteligência artificial, trabalho em plataformas e igualdade de gênero”). Segundo ela, há vários dados que indicam a desigualdade de gênero no trabalho relacionada à inteligência artificial.

“O relatório destaca que as mulheres são sub-representadas em profissões relacionadas à inteligência artificial, como ciência da computação e engenharia. Além disso, as mulheres são menos propensas a trabalhar em empresas de tecnologia e startups, que são os principais empregadores de profissionais de inteligência artificial. Isso tudo porque existem barreiras que influenciam a probabilidade de entrada das mulheres no campo da tecnologia, como estereótipos de gênero, a divisão de gênero nas habilidades digitais e escolhas educacionais – as mulheres enfrentam barreiras de gênero em suas trajetórias ocupacionais, incluindo ambientes de trabalho fortemente dominados por homens, assédio sexual e falta de acesso a financiamento”, diz.

Em termos legais, existem exemplos de grandes empresas que utilizaram ferramentas de IA para recrutamento e seleção de pessoas, em que se constatou evidente viés discriminatório da ferramenta ao privilegiar currículos de pessoas do sexo masculino ao feminino, em se tratando de cargo ligado ao mercado da tecnologia.

“Por essa razão, a corrida para regulamentar a tecnologia ganhou novo impulso, em que os EUA saíram na frente nesse tema: na cidade de Nova Iorque, foi editada a Lei Local 144 de 2021, válida a partir de julho deste ano. Em resumo, todas as empresas que desejarem usar IA para recrutamento e seleção de pessoas envolvendo cidadãos de Nova Iorque deverão seguir as medidas preventivas indicadas, sob pena de sanções legais. Isso envolve auditar os sistemas e entender que tipo de vieses podem ser reproduzidos, implementando medidas para abrandar esses riscos, incluindo questões de gênero” afirma.

Setores em que a IA tem impacto mais significativo nas vagas de empregos femininas
Existem estudos divulgados nos últimos anos que têm o objetivo de avaliar o impacto da tecnologia no mercado de trabalho. Segundo o documento “The Future of Jobs Report 2023”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, a paridade de gênero na força de trabalho como um todo se encontra no nível mais baixo registrado.

“As mulheres estão super-representadas em empregos administrativos e serviços de escritório nos Estados Unidos, cujo potencial de automação por meio da IA foi estimado em 60% no país. Portanto, essas áreas podem ser particularmente afetadas pela automação impulsionada pela IA. No entanto, empregos com uma proporção maior de tarefas que envolvem maior complexidade, como gerenciar pessoas, aplicar especialização, interações sociais, inteligência emocional ou avaliação contextual, podem ter um risco menor de automação impulsionada pela IA” comenta Paula.

Para garantir que a transformação trazida pela IA beneficie igualmente todas as pessoas, independentemente do gênero, um primeiro passo em termos de abrandamento da discriminação de gênero. “No caso das mulheres, é tentar garantir que os sistemas de IA não as associem a ocupações relacionadas a cuidados ou à assistência, e que a narrativa em torno dos estereótipos de gênero também pode ser modificada. Ademais, a transformação trazida pela IA pode e deve beneficiar igualmente todas as pessoas, independentemente do gênero, por meio da promoção de oportunidades de aprendizado e desenvolvimento para mulheres em áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), bem como a implementação de políticas orientadas para a família para melhorar o acesso a estruturas de cuidados de crianças. A educação e a conscientização das camadas sociais sobre o uso e impacto da IA (algoritmos e machine learning/deep learning) continua sendo essencial”, conclui.

 

Matéria publicada na plataforma Inovar é um Parto.

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